Editorial
Abstract
Editorial
O V Encontro Nacional de Economia Industrial
Ricardo Machado Ruiz - Coeditor
Gustavo Britto - Editor
Neste número, a revista Nova Economia apresenta um conjunto de artigos que foram apresentados no V Encontro Nacional de Economia Industrial (V ENEI), promovido pela Associação Brasileira de Economia Industrial (ABEIN), Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) e pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar). O encontro foi realizado on-line de 10 a 14 de maio de 2021, durante a crise sanitária, e destacou temas que lhe são mais próximos: inovação, sustentabilidade e pandemia.
Após o encontro, a Nova Economia fez um convite especial aos seus participantes para que submetessem artigos que pudessem ser considerados em eventual publicação da revista. Tendo em consideração a temática do evento, assim como a necessidade de avaliação prévia dos artigos submetidos, para posterior avaliação por pares, o professor Ricardo Machado Ruiz foi convidado para coeditor especial.
O sucesso no processo de avaliação de um bom número de trabalhos permitiu que os artigos aprovados fossem reunidos em um mesmo número regular da revista. Foram selecionados sete artigos com diversidade de visões, propostas, métodos e análises, como requer uma sociedade aberta e plural.
O artigo de Kaio Vital Costa trata das mudanças estruturais em um conjunto de países, constrói indicadores e os utiliza para avaliar a complexidade das estruturas produtivas. A partir das cadeias globais de valor, o autor aponta para uma diversidade nessas estruturas, com desigual apropriação de renda e interdependente articulação entre os países. Para o Brasil, indica uma posição de dependência e de subordinação que requer um pensar ousado e transformador.
Ao considerarem os desafios para o desenvolvimento regional, Daniela Scarpa Beneli, Silvia Angélica Domingues de Carvalho e André Tosi Furtado elaboram um indicador estadual de inovação. Partem de dois subsistemas estaduais: as instituições geradoras e difusoras de conhecimento e as estruturas produtivas que utilizam esses conhecimentos. Indicam procedimentos e métricas para mensurar a infraestrutura, os dispêndios públicos e privados em P&D e o desempenho das atividades inovativas. Enfim, oferecem um instrumento relevante para orientar políticas estaduais de inovação.
Ainda na seara internacional, Danielle Evelyn de Carvalho e Fernanda Aparecida Silva observam a concorrência setorial e tecnológica a partir dos fluxos de comércio internacionais. Encontram grupos de produtos com concorrência centrada na redução de custos e outros grupos que concorrem com diferenciação e inovação de produtos. Afirmam ser necessário observar com cautela essa variedade de casos e, assim, delinear adequadas estratégias empresariais e especificas políticas públicas.
Mudando o foco para o Brasil, Tomás Amaral Torezanni apresenta uma decomposição da renda per capita regional no período 2004-2015 considerando variáveis socioeconômicas regionais. Conclui que o peso dos serviços tradicionais e a modesta participação da indústria de transformação e dos serviços modernos foram decisivos para o baixo crescimento, não obstante o relativo êxito da agropecuária. Afirma que esse desempenho foi diverso no Brasil, dada a heterogeneidade regional deste país continental.
Na rede de relações econômicas internacionais, Thiago Noronha Sugimoto e Antônio Carlos Diegues discutem as relações entre China e Brasil. Comentam a especialização regressiva e a desindustrialização brasileira e as comparam com a industrialização integrada e diversa chinesa. Sinalizam também a necessidade de se repensar a posição nacional na intrincada rede econômica mundial, pois não estão reservando uma posição de destaque ao país.
Na dimensão das políticas públicas, Lindomayara França Ferreira, José Ricardo de Santana, Márcia Siqueira Rapini e Fábio Rodrigues de Moura avaliam o Fundo Setorial de Energia do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Buscam identificar o efeito do Fundo na produção científica e tecnológica em energias renováveis. Concluem que o Fundo produz aumento marginal médio de 2,3% sobre a probabilidade de publicação, dado um incremento de R$10 mil no financiamento, além de potencializar o desempenho de pesquisadores já atuantes. Concluem que o Fundo tem papel relevante na constituição de uma base científica e tecnológica nesse setor produtivo.
Por fim, na inovação setorial, Matheus Gonçalves da Silva Pereta, André Tosi Furtado e Janaína Oliveira Pamplona da Costa fazem o registro e apreciação das inovações no processamento submarino de petróleo e gás natural. Observam os agentes envolvidos no desenvolvimento tecnológico, o papel decisivo das grandes empresas e dos seus fornecedores e a interação usuário-produtor. O artigo apresenta uma rica análise do desenvolvimento de uma tecnologia setorial e é uma referência para o desenho de políticas públicas que orientem o processo de inovação e capacitação tecnológica.
Como se pode observar desse conjunto variado de estudos do V ENEI/ABEIN, a inovação, a sustentabilidade e a competitividade internacional são eventos complexos e multifacetados. As vantagens comparativas são construídas, são algo distante de dotações naturais de recursos ou de eventos espontâneos de mercado, particularmente em países subdesenvolvidos, como o Brasil. A estrutura produtiva é resultado de forte articulação de políticas públicas com estratégias privadas direcionadas à inovação e produção. Talvez, com sorte, retornaremos ao século XXI e à construção de uma nação inclusiva.
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