Editorial - O teatro na UFMG
Resumo
Editorial - O teatro na UFMG
Gustavo Britto
Editor
Neste segundo número de seu volume 31, a revista Nova Economia apresenta a segunda coletânea de imagens para registrar e homenagear o teatro como símbolo cultural de resistência à barbárie causada pela conjunção entre o desgoverno da pandemia e a pandemia do desgoverno. No momento da publicação deste volume, o horror provocado pelas mais de seiscentas mil mortes registradas oficialmente no Brasil se confunde com os primeiros passos de uma maior abertura e com a esperança de uma eventual reconstrução na nação, que se colocam como possibilidades criadas pelo avanço da vacinação no país.
Um futuro melhor, como possibilidade, só existe em virtude de avanços científicos em ritmo sem precedentes históricos, que foram proporcionados por décadas de investimento e desenvolvimento institucional, assim como pela ação incansável – embora frequentemente invisível – de milhares de pessoas dedicadas à pesquisa e desenvolvimento, em particular na área da saúde. Nesse processo, a UFMG tem tido papel de destaque e de liderança, mesmo frente a desafios constantemente recriados, que em diversos momentos pareceram ser intransponíveis.
Por isso, a curadoria de arte apresentada neste número é particularmente oportuna. Nela, a riqueza da tradição cultural da UFMG é representada pelo registro fotográfico de espetáculos concebidos e realizados por seu Teatro Universitário (TU) ao longo de décadas. Com mais de 74 anos de história, o TU tem uma preciosa trajetória que é inseparável do próprio processo de desenvolvimento da universidade. A história do TU, atualmente em processo de registro, pode ser contada pela evolução dos seus espetáculos. Parte desse material, que nos foi gentilmente cedida, é apresentada nas próximas páginas.
Que as imagens do Teatro Universitário possam ilustrar um momento de virada, amparado na criatividade e na recuperação de valores humanistas como bases para a construção solidária dos dias melhores que virão.
O Teatro Universitário
Denise Araújo Pedron
Diretora do Teatro Universitário da UFMG
Contar a história do Teatro Universitário da UFMG é uma forma de valorizar seu passado e reafirmar seu presente. Por meio de um levantamento de documentos fotográficos, tivemos contato com uma história que afirma o teatro como um lugar de produção de espetáculos e também de produção de conhecimento, que tem formado gerações de atores ao longo de seus mais de 70 anos de existência.
A história do TU remonta ao ano de 1947, podendo este ser considerado o primeiro equipamento cultural da UFMG. A primeira informação do TU consta em uma ata de reunião do Conselho Universitário datada de 9 de dezembro, da então Universidade de Minas Gerais, sob a presidência do reitor Manoel Pires de Carvalho e Albuquerque, que aprova uma solicitação de verba feita por estudantes de diversos cursos para montagem de um espetáculo teatral. Em 1949, no livro História da Universidade Federal de Minas Gerais, encontram-se referências positivas em relação às atividades desenvolvidas no setor teatral da universidade – Teatro Universitário –, que à época funcionava em sede provisória na Rua de Janeiro, 935. No entanto, nesse momento o TU configurava-se mais como um grupo de teatro do que propriamente como uma Escola de Formação de Atores.
É só a partir de 1952 que se encontram registros fotográficos e programas dos espetáculos desenvolvidos no TU, então sob a direção de Jean Bercy. Ainda assim, trata-se de uma documentação esparsa que não registra de modo integral as atividades desenvolvidas. Pela análise de documentos administrativos sabemos que nesse período o TU continuou em atividade, porém os registros das atividades artísticas não foram realizados, conservados ou encontrados.
É em 1961, com o convite do reitor à época, Orlando Carvalho, intermediado por Sábato Magaldi, que a diretora Haydée Bittencourt chega a Belo Horizonte para gerir o TU, onde atua por 24 anos. Como afirma a própria Haydée, podemos pensar que tudo antes de 1961 é a pré-história do que viria a ser o TU. Não que ele não tivesse sua importância em seus primeiros 14 anos de existência, porém a história dessa mulher e da instituição se confunde, formando um único tempo, que formaliza e institui de maneira sólida o TU na universidade e na cidade. É por causa dessa artista dedicada e desse acervo, constituído dentro do TU, que hoje podemos contar essa história.
A partir daí, arriscamos dizer que o Teatro Universitário começa a desenvolver um olhar e uma postura mais profissional em relação ao curso e também às suas montagens. Os cenários e os figurinos passam a receber um olhar mais cuidadoso. Os registros fotográficos das montagens são realizados de maneira mais sistemática. Textos de autores consagrados, tanto estrangeiros quanto brasileiros, passam a ser objeto de estudo e criação de um conjunto de atores, que estudam metodologias e técnicas consolidadas no cenário mundial da arte teatral. Um acervo começa a existir de fato.
Ainda durante e depois da era Haydée, na década de 1980, o curso do TU, então vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, empreende uma série de ações e passa a ser reconhecido como curso técnico de formação de atores, tanto em âmbito interno à universidade como no Ministério da Educação e Cultura, possuindo uma grade curricular que atende as exigências para habilitação de atores e que acaba servindo de referência para a criação de outros cursos semelhantes no Brasil. É nessa época que professores como Fernando Limoeiro e Fernando Linares iniciam sua trajetória no TU que prossegue até os dias de hoje.
Desde então, podemos dizer de uma presença forte da importância do trabalho coletivo no teatro, que se estabelece no curso e que passa a ser uma característica marcante da formação realizada no TU. Podemos observar também que a partir daí começam a surgir grupos que nascem de reunião de atores formados nessa escola de teatro (e também em outros espaços) que passam, com o tempo, a ocupar lugares importantes no cenário nacional.
Na formação dos atores que passam pelo TU encontram-se conhecimentos relacionados a diversas técnicas de interpretação, máscaras, teatro popular de cordel, circo, consciência corporal e vocal, história e teoria do teatro, visualidades do espetáculo e produção teatral. Essa gama de disciplinas que constrói o curso fundamenta a realização de cenas e até mesmo de peças mais curtas, que são elaboradas durante o percurso formativo dos alunos. E como etapa conclusiva na formação do ator é desenvolvida, no Estágio Final de Montagem, a produção do chamado Espetáculo de Formatura. O material fotográfico que disponibilizamos aqui é fruto de uma pesquisa no acervo do TU e traz montagens realizadas como espetáculos de conclusão de curso em alguns momentos de sua história.
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