Chamada de Trabalhos - Dossiê temático "ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS E CONTRA HEGEMÔNICAS"

2017-02-18

CHAMADA DE TRABALHOS

 

 

DOSSIÊ TEMÁTICO

 

ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS E CONTRA HEGEMÔNICAS

 

 

EDITORES ESPECIAIS

 

Pedro de Almeida Costa, UFRGS

Rene E. Seifert, UTFPR

Fábio Bittencourt Meira, UFRGS

Antônio João Hocayen-da-Silva, UNICENTRO

 

 

O pensamento acadêmico dominante elege a organização empresarial formal burocrática como a única forma organizacional possível. Visão que corresponde a um processo ideológico e hegemônico atrelado a uma lógica utilitarista instituída pela sociedade de mercado e institucionalizado no modo de produção capitalista. Universalizou-se, assim, um modo de organizar que nos últimos anos favoreceu o crescimento organizacional e econômico aliados à racionalidade instrumental (GUERREIRO RAMOS, 1989) e à orientação pró-mercado (POLANYI, 2000).

 

Como argumentam Seifert e Vizeu (2015), no contexto moderno, o objetivo primeiro da organização passou a ser o crescimento visando a concentração de capital e aumento da competitividade. Entretanto, tal pressuposto incorpora um discurso ideológico, caracterizado pela elevação de interesses particulares à condição de valores universais, com a negação de contradições e a reificação do presente. A premissa fundamental de coordenação do trabalho organizacional e da própria Teoria das Organizações passa a ser a racionalidade instrumental, baseada no modelo burocrático e em suas premissas comportamentais (GUERREIRO RAMOS, 1989). Como consequência, tem-se a ratificação dos pressupostos ideológicos do mercado, a partir de um arcabouço teórico correspondente à área de Estudos Organizacionais em Administração.

 

Face à ampla institucionalização da sociedade de mercado, a racionalidade instrumental se torna totalitária na medida em que recusa explicações ou visões alternativas acerca dos fenômenos sociais advindas de formas de conhecimento que não pactuam com seus pressupostos metodológicos e epistemológicos. Nesse sentido, o senso comum é abafado pela ciência moderna e classificado como limitado na busca pela compreensão do mundo (SANTOS, 2001). Assim sendo, qualquer outro modo de organizar é considerado inadequado ou estranho à economia de mercado e mesmo à área de Estudos Organizacionais.

 

Entretanto, conhecer e estudar “experimentos” organizacionais alternativos pode significar o entendimento dos caminhos que trilham mudanças sociais maiores de confronto com a hegemonia da organização burocrática empresarial, ou talvez simplesmente possa levar ao entendimento de processos organizativos que vivem em permanente contradição com as práticas convencionais, tensionando-as e produzindo fenômenos difíceis de explicar por meio das perspectivas consagradas dos Estudos Organizacionais.

 

Portanto, considerando o crescente debate sobre a legitimidade das ideias vinculadas ao modelo capitalista na determinação dos critérios de efetividade da vida organizacional, o Dossiê Temático Organizações Alternativas e Contra Hegemônicas, que, inserido na área de Estudos Organizacionais em Administração e inclinado a uma perspectiva histórico-crítica acerca de Formas Não Convencionais de Organização e Gestão, tem como propósito a promoção de reflexões acerca de organizações que se manifestem como formas de resistência ativa ao modelo de organização que se tornou hegemônico.

 

Este Dossiê Temático constitui um espaço de discussão e reflexão sobre experiências organizacionais alternativas e contra hegemônicas, recorrentemente ignoradas pelas abordagens dominantes na pesquisa científica em Administração e Organizações. Vale notar que na literatura nacional e internacional tais experiências são referidas pelo uso de intensa adjetivação, entre elas: organizações coletivistas (ROTSCHILD-WITT, 1979), organizações substantivas (SERVA, 1993), organizações alternativas (PARKER; FOURNIER; REEDY, 2007), organizações contra-hegemônicas (SULLIVAN; SPICER; BOHM, 2011; ZILIO et al, 2012), organizações liminares (MEIRA, 2014), organizações de resistência (BARCELLOS; DALLAGNELO, 2014) e formas não convencionais de organização (VIZEU; SEIFERT; HOCAYEN-DA-SILVA, 2015).

 

Esta proposta se justifica ao fomentar reflexões teóricas e empíricas acerca dos conceitos de organização e gestão visando romper com categorizações atualmente aceitas e reproduzidas em diferentes estudos, o que contribui para o reconhecimento da multiplicidade de formas e práticas organizacionais dotadas de singularidades que as tornam distintas. Assumir um conceito de organização não excludente acarretaria uma compreensão múltipla dos fenômenos sociais na área de Estudos Organizacionais.

 

Como eixos de investigação, defende-se que os estudos e pesquisas submetidos tenham como norte, ainda que não limitados a estes, ensaios teóricos e estudos empíricos que contribuam para sedimentar e expandir o campo de estudo sobre Organizações Alternativas e Contra Hegemônicas, considerando aspectos como:

 

  • modos coletivistas de produção e uso de espaços e bens;
  • organizações anarquistas, autogeridas e não hierárquicas;
  • organizações conviviais, solidárias e centradas na prática da subsistência e do bem viver;
  • bases da ação social em organização não burocráticas;
  • organização de produção artesanal tradicional;
  • limites ao crescimento e ao uso de bens e recursos naturais.

São igualmente bem-vindos estudos teórico-empíricos que reflitam sobre e/ou estejam organizados a partir de perspectivas metodológicas que se mostrem capazes de captar a complexidade das experiências de organização alternativa e contra hegemônica. Reflexões a respeito dos métodos e adequados para o entendimento das organizações alternativas e contra hegemônicas são tão importantes quanto o próprio conhecimento produzido por pesquisas neles assentados, no sentido de que ampliam os horizontes desses estudos enquanto campo nascente.

 

Referências

 

BARCELOS, R. M. R.; DALLAGNELLO, E. H. S. (2014). A teoria política do discurso como abordagem para o estudo das organizações de resistência: reflexões sobre o caso circuito fora do eixo. Organizações & Sociedade. Salvador, v. 21, 70, p.405-424.

 

GUERREIRO RAMOS, A. (1989). A Nova Ciência das Organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: FGV.

 

LEOPOLDO E SILVA, F. (1997). Conhecimento e razão instrumental. Psicologia USP. v. 8, n.1, p 11-31.

 

MEIRA, F. (2014). Liminal organization: organizational emergence within solidary economy in Brazil. Organization, v.21, n.5: 713-729.

 

PARKER, M.; FOURNIER, V.; REEDY, P. (2007). The dictionary of alternatives: utopianism and organisation. London: Zed Books.

 

POLANYI, K. (2000). A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus.

 

ROTHSCHILD-WITT, J. (1979). The collectivist organization: an alternative to rational-bureaucratic models. American Sociological Review, v. 44, p.509-527.

 

SANTOS, M. (2001). Por uma outra globalização: do pensamemto único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record.

 

SEIFERT, R. E.; VIZEU, F. (2015) Crescimento organizacional: uma ideologia gerencial? Revista de Administração Contemporânea, v. 19, p. 127-141.

 

SERVA, M. (1993). O fenômeno das organizações substantivas. Revista de administração de Empresas, v. 33, n. 2, p. 36-43.

 

SULLIVAN, S., SPICER, A.; BOHM, S. (2011). Becoming global (un)civil society: counter-hegemonic struggle and the Indymedia Network. Globalizations. v. 8, n. 5, p. 703-717.

 

VIZEU, F.; SEIFERT, R. E.; HOCAYEN-DA-SILVA, A. (2015) J. Non-capitalist organizations in Latin America: lessons from the Brazilian Faxinal grassroot community. Cadernos EBAPE.BR, v. 13, p. 369-389.

 

ZILIO, L. B.; BARCELOS, R. M. B.; DELLAGNELLO, E. H. L.; ASSMANN, S. J. (2012). Organizações contra hegemônicas e possibilidade de redescoberta da política na modernidade: uma contribuição a partir do pensamento de Hannah Arendt. Cadernos EBAPE.BR, v.10, n. 4, p.789-803

 

Modalidades de contribuição

 

Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade publica contribuições na forma de Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas (de livros, filmes, exposições, performances artísticas), Registros fotográficos e Vídeos. Os idiomas aceitos nas contribuições são português, inglês e espanhol, desde que estejam de acordo com a política editorial e as diretrizes para os autores. Para ter acesso às orientações gerais, acesse:http://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/about/submissions#onlineSubmissions.

 

Submissão

 

Qualquer que seja a modalidade de contribuição (Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas, Registros fotográficos ou Vídeos), xs autorxs devem informar o editor, no item “Comentários para o editor”, que estão submetendo especificamente para o dossiê temático “ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS E CONTRA HEGEMÔNICAS”.

 

Prazo

 

As contribuições para o dossiê temático “ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS E CONTRA HEGEMÔNICAS” se encerram impreterivelmente no dia 19 de junho de 2017.

 

Informações adicionais

 

No caso de quaisquer dúvidas sobre este número especial, os editores especiais devem ser contactados: Prof. Dr. Pedro de Almeida Costa (pacosta@ea.ufrgs.br ), Prof. Dr. Rene E. Seifert (r.e.seifert@gmail.com), Prof. Dr. Fábio Bittencourt Meira (fabio.meira@ufrgs.br), ou Prof. Dr. Antônio João Hocayen-da-Silva (hocayen@yahoo.com.br). No caso de dúvidas sobre o periódico em si, o contato deve ser feito com a secretaria de farol (farol@face.ufmg.br).

 

Prof. Luiz Alex Silva Saraiva, Dr.
Editor-chefe
Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade