Chamada de Trabalhos - Dossiê temático "História, Memória, Cotidiano e Administração"

2016-07-11

CHAMADA DE TRABALHOS

 

Dossiê Temático

 

História, Memória, Cotidiano e Administração

 

Editores Especiais

 

Alexandre de Pádua Carrieri, UFMG

Amon Barros, FGV/EAESP

Sergio Wanderley, UNIGRANRIO

Alessandra de Sá Mello da Costa, PUC-Rio)

 

 

 

O número especial tem por objetivo abrir espaço para discussões que contemplem a importância, as práticas, as contribuições e os desafios da aproximação entre história, memória, cotidiano e administração. A ideia é contribuir com o crescente esforço de pesquisadores que buscam em suas pesquisas superar o caráter ainda a-histórico da área, promovendo reflexões críticas e interdisciplinares a partir da utilização de diferentes epistemologias, metodologias e fontes documentais.

 

No Brasil, a utilização de métodos e procedimentos analíticos históricos por pesquisadores em Administração começa a se fortalecer nas últimas duas décadas (CURADO, 2001; PIERANTI, 2008; COSTA, BARROS e MARTINS, 2010). Isso não quer dizer que trabalhos com viés analítico-histórico não permeiem o campo, notadamente trabalhos de inspiração marxista ou foucaultiana. Exemplo dos primeiros são o trabalho de Gurgel e Justen (2015) e de Faria (2009), enquanto que do segundo cita-se Carrieri, Perdigão e Aguiar (2014) e Souza et al. (2006).

 

Por outro lado, aspectos que podem ser vistos sob o crivo histórico fazem parte das discussões do campo desde que ele se estabelece enquanto saber acadêmico. Por exemplo, disciplinas como a Teoria Geral de Administração (TGA) presentes em diversos cursos pelo país podem ser discutidas a partir da necessidade de se entender o aparecimento e desenvolvimento das diversas teorias que permeiam o (mainstream) do campo. Dessa forma, é possível também situar o conhecimento no tempo e no espaço, diminuído o risco da importação acrítica de narrativas, modelos e de modelos de narrativas que apenas reproduzem de forma acrítica uma visão (estadunidense) de como o campo se desenvolveu. Neste sentido, pode-se citar, por exemplo, os trabalhos de Curado (2001) e Barros et al. (2011) que discutem o desenvolvimento dos saberes administrativos a partir dos saberes práticos, Vizeu (2008) que discute a chegada do taylorismo no Brasil pelas mãos do Instituto de Organização Racional do Trabalho ou, mesmo, Zanetti e Vargas (2007) que problematizam a interpretação dada ao taylorismo e ao fordismo na sua chegada no país. É importante também a iniciativa da própria Farol de resgatar a história dos estudos organizacionais no Brasil a partir de depoimentos de atores partícipes do processo, como Freitas (2015), Mattos (2015) e Serva (2014).

 

Acredita-se, entretanto, que ainda predominam visões fetichizadas do desenvolvimento da área e dos conhecimentos que a constituem e que a história é tema pouco discutido e muitas vezes tratados de forma estática, no que Üsdikem e Kieser (2004) classificariam como abordagem suplementarista. Aliás, apesar de ter cumprido importante papel na legitimação das discussões no país, entende-se que é possível colocar em questão o chamado historic turn, interrogando em que medida este efetivamente contribuiu – em toda a sua potencialidade – para transformações nos estudos organizacionais (WANDERLEY, 2015).

 

Neste sentido, são bem vindos estudos que busquem analisar e problematizar como as fontes e os arquivos históricos podem contribuir para um melhor entendimento acerca dos fenômenos organizacionais e como a pesquisa histórica pode ser usada por pesquisadores para além de um engajamento entendido como superficial com o passado, com foco apenas em pesquisas longitudinais e uso de fontes históricas para testes e ilustrações de teorias, modelos e hipóteses originadas em contextos externos.

 

Também são bem vindos estudos que tratem das questões da história dos pequenos e médios negócios, do cotidiano, da memória e da prática. Interessa-nos trabalhar a história, a memória e o cotidiano do pequeno negociante/comerciante, o homem comum (MARTINS, 2008), com suas relações sociais estabelecidas, sua forma de organizar seus negócios, suas estratégias de sobrevivência. Interessa ainda tentar abarcar os usos e sentidos desses espaços – de negócio e/ou de família – e a rede de relações ali tecidas por aqueles que os vivem cotidianamente. Pensar esses espaços de negócios pela cidade a partir da compreensão dessas relações significa dizer que sua força e importância histórica e sociocultural residem nos sentidos que os habitantes da cidade conferem a esses espaços e nas relações particulares que com eles estabelecem. Com base em Benjamin (2006) e Bosi (2003; 2004), a ideia é desenvolver pesquisas sobre o cotidiano dos espaços de negócio, tanto nas cidades quanto no espaço rural.

 

Nesta mesma linha, busca-se nesta chamada estudos que abordem a investigação das instituições formais de ensino; que ampliem a pesquisa para além do eixo Rio-São Paulo; e que fomentem a interdisciplinaridade, por exemplo, com os campos de história da educação e história do pensamento econômico brasileiro. Assume-se aqui que a historiografia de algumas instituições formais de ensino foi ainda pouco explorada, notadamente aquelas fora do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ao mesmo tempo, pode-se buscar inspiração nos ‘intérpretes do Brasil’ como Sergio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Guerreiro Ramos, Hélio Jaguaribe, Raymundo Faoro, entre outros.

 

Estabelecidos estes aspectos, convidamos autores para a submissão de trabalhos teóricos e empíricos que enfoquem, mas não necessariamente se limitem a:

 

  • Contribuições ontológicas, epistemológicas e/ou metodológicas da perspectiva histórica para a área de Administração.
  • Gestão ordinária, memória e o cotidiano do trabalho.
  • História dos (pequenos e médios) negócios.
  • História do Management no Brasil.
  • História do Ensino de Administração no Brasil.
  • História, Administração e Guerra Fria.
  • Fontes, Arquivos e Acervos históricos para construção de historiografias na Administração.
  • Projetos empresariais de constituição de Centros de Memória e Documentação Corporativos e Museus Corporativos.
  • Empresas, Governo e Violação dos Direitos Humanos em análises históricas.
  • Empresas, Governo e Ditadura Civil-Militar Brasileira.
  • História dos conceitos

 

Referências

 

BARROS, A.; CRUZ, R; XAVIER, W; CARRIERI, A; LIMA, G. Apropriação dos saberes administrativos: um olhar alternativo sobre o desenvolvimento da área. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 12, n. 5, p. 43-67, set./out. 2011.

 

BENJAMIN, W. Passagens. Belo Horizonte, São Paulo: UFMG/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

 

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

 

BOSI, E. O tempo vivo da memória. São Paulo: Atelier, 2003.

 

CARRIERI, A. P.; PERDIGÃO, D. A.; AGUIAR, A. R. C. A gestão ordinária dos pequenos negócios: outro olhar sobre a gestão em estudos organizacionais. Revista de Administração, São Paulo, v. 49, n. 4, p. 698-713, out./dez. 2014.

 

COSTA, A.; BARROS, D.; MARTINS, P. E. Perspectiva histórica em administração: novos objetos, novos problemas, novas abordagens. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 50, n. 3, p. 288-299, jul./set. 2010.

 

CURADO, I. B. O desenvolvimento dos saberes administrativos em São Paulo. 2001. 191 f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2001.

 

FARIA, J. H. Teoria crítica em estudos organizacionais no Brasil: o estado da arte. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 509-515, set. 2009.

 

FREITAS, M. E. Meus encontros com os estudos organizacionais. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 272-313, abr. 2015.

 

GURGEL, C.; JUSTEN, A. Teorias organizacionais e materialismo histórico. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 22, n. 73, p. 199-222, abr./jun. 2015.

 

PIERANTI, O. A metodologia historiográfica na pesquisa em administração: uma discussão acerca de princípios e sua aplicabilidade no Brasil contemporâneo. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 1-12, mar. 2008.

 

MARTINS, J. S. A sociabilidade do homem simples. São Paulo: Hucitec, 2008.

 

MATTOS, P. L. C. L. Por onde andei: administração, estudos organizacionais e algumas obsessões... Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 620-681, ago. 2015.

 

SERVA, M. A trajetória do núcleo de pesquisa em organizações, racionalidade e desenvolvimento. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 589-608, dez. 2014.

 

SOUZA, E.; JUNQUILHO, G.; MACHADO, L.; BIANCO, M. A analítica de Foucault e suas implicações nos estudos, organizacionais sobre poder. Organizações e Sociedade, Salvador, v. 13, n. 36, p. 12-25, jan./mar. 2006.

 

ÜSDIKEN, B.; KIESER, A. Introduction: history in organization studies. Business History, Cambridge, v.46, n.3, p. 321-330, 2004.

 

VIZEU, F. Management no Brasil em perspectiva histórica: o projeto do IDORT nas décadas de 1930 e 1940. 2008. 254 f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2008.

 

WANDERLEY, S. Desenvolviment(ism)o, descolonialidade e a geo-história da administração no Brasil: a atuação da CEPAL e do ISEB como instituições de ensino e pesquisa em nível de pós-graduação. 2015. 322 f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2015.

 ZANETTI, A; VARGAS, J. T. Taylorismo e fordismo na indústria paulista: o empresariado e os projetos de organização racional do trabalho, 1920 – 1940. São Paulo: Associação Editorial Humanista, 2007.

 

Modalidades de contribuição

 

Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade publica contribuições na forma de Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas (de livros, filmes, exposições, performances artísticas), Registros fotográficos e Vídeos. Os idiomas aceitos são português, inglês e espanhol, desde que estejam de acordo com a política editorial e as diretrizes para os autores. Para ter acesso às orientações gerais, acesse: http://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/about/submissions#onlineSubmissions.

 

Submissão

 

Qualquer que seja a modalidade de contribuição (Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas, Registros fotográficos ou Vídeos), xs autorxs devem informar o editor, no item “Comentários para o editor”, que estão submetendo especificamente para o dossiê temático “História, Memória, Cotidiano e Administração”.

 


 

Prazo

 

As contribuições para o dossiê temático “História, Memória, Cotidiano e Administração” se encerram impreterivelmente no dia 16 de Novembro de 2016.

 

Informações adicionais

 

No caso de quaisquer dúvidas sobre este dossiê temático, os editores especiais devem ser contatados: Alexandre de Pádua Carrieri (alexandre@face.ufmg.br), Amon Barros (amon.barros@fgv.br), Sergio Wanderley (sergiow.gaz@terra.com.br) ou Alessandra de Sá Mello da Costa (alessandra.costa@iag.puc-rio.br). No caso de dúvidas sobre o periódico em si, o contato deve ser feito com a secretaria editorial (farol@face.ufmg.br).

 

 

Prof. Luiz Alex Silva Saraiva, Dr.
Editor-chefe
Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade