Chamada de Trabalhos - Dossiê temático "Administração Política: Ensino, Pesquisa e Prática"

2016-06-29

Dossiê temático

ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA: ENSINO, PESQUISA E PRÁTICA

 

Editorxs Especiais

Reginaldo Souza Santos (UFBA)

Elizabeth Matos Ribeiro (UFBA)

Elinaldo Leal Santos (UESB)

Fábio Guedes Gomes (UFAL)

 

 

Na contramão da percepção tradicional e tecnicista dos fenômenos administrativos e organizacionais, surge no Brasil, nos anos 1990, uma linha de pensamento crítico denominada Administração Política, com fim específico de compreender a gestão das relações sociais de produção, circulação, distribuição e consumo da sociedade contemporânea. 

 

A Administração Política, na condição de subcampo da Administração, tem por finalidade científica e profissional contribuir para que os administradores políticos e profissionais possam se capacitar para observar, descrever, explicar, evidenciar, criticar, normatizar e propor soluções administrativas e organizacionais  (no campo da gestão e da gerência) que contribuam, de forma efetiva, para articular as duas dimensões indissociáveis que envolvem o ato e fato administrativo e/ou  as práticas e saberes administrativos e organizacionais, através da  integração entre o Pensar e o Agir; entre a dimensão política da gestão e a dimensão técnica da gerência.

 

Com esse propósito, a Administração Política busca aprofundar as pesquisas e os debates que têm se desenvolvidos nas últimas décadas sobre as contradições epistemológicas, metodológicas e praxiológicas, conforme apontadas pelas diversas correntes que integram o amplo campo de estudos da Administração (Estudos Ortodoxos, Estudos Organizacionais e Estudos Críticos).  Em linhas gerais, a Administração Política objetiva contribuir para articular relevantes estudos, desde a formação das sociedades antigas, especialmente as contribuições legadas pelas civilizações grega clássica, romana e medieval, passando pela moderna, até a compreensão das funções políticas, sociais e técnicas da administração contemporânea.  

 

Ao assumir que os fenômenos administrativos são ‘fatos sociais’ factíveis de serem investigados cientificamente, os pesquisadores da área de estudos em Administração Política assumem a gestão e não as organizações como objeto científico próprio das ciências administrativas. Ao assumir a gestão como objeto do conhecimento, os estudiosos da Administração Política consideram a dimensão sociopolítica e cultural como fatores determinantes da concepção dos ‘atos e fatos administrativos’ e, portanto, orientadores das práticas administrativas (do fazer administrativo). Ao assumir a gestão e não as organizações como objeto científico, os administradores políticos defendem que o objeto de estudo e de práticas se amplia para além das organizações privadas e públicas, avançando, pois, para compreender o papel e funções estratégicas da Sociedade e do Estado. O que implica pressupor que para se compreender a total e complexa capacidade de Administração Política de uma dada sociedade e Estado, é fundamental integrar nesta análise como se articulam o Estado, as Corporações e a Sociedade.

 

A partir dessa análise contextualizada, a Administração Política faz a crítica a limitação dada pelos estudos ortodoxos da administração fundados essencialmente nos princípios e critérios técnico-instrumentais, desconsiderando, portanto, o ‘papel social e político’ que os fenômenos administrativos e os administradores têm na concepção de um dado padrão de “gestão das relações sociais de produção, circulação e distribuição”, que envolve tanto a dimensão da gestão (dimensão do pensar), como também a dimensão da gerência (dimensão da práxis). Em síntese, a Administração como subcampo das Ciências Sociais Aplicadas esta desafiada a desenvolver competências cientificas e técnicas para garantir a materialidade humana e social, assim como a Economia. 

 

Ao priorizar a perspectiva crítica dos estudos da administração, cabe destacar que este campo exige dos pesquisadores um elevado grau de generalidade e abstração, visto que integra como objetos de estudos tantos fenômenos subjetivos, que conformam a dimensão da gestão, como fenômenos objetivos, que conformam a dimensão da gerência (dimensão técnico/instrumental). Os primeiros fenômenos, vinculados ao campo da gestão, demandam, portanto, maior investimento no desenho de bases metodológicas mais qualitativas para responder às seguintes questões de partida: Como se organiza ou deve-se organizar o sistema produtivo (as relações sociais de produção, circulação e distribuição) de uma dada sociedade? Como os agentes econômicos se posicionam e agem dentro desse sistema? Qual a melhor forma para distribuir a riqueza produzida socialmente nesse sistema socioeconômico? Qual o discurso ideológico que justifica a concentração de riqueza gerada por essa sociedade? Se a administração política busca identificar e discutir as correlações de forças ideológicas, teóricas e práticas que integram um dado padrão de gestão, de modo a contribuir desvendar, evidenciar, criticar, normatizar e propor ações administrativas, cabe perguntar então: qual o papel científico, político e técnico que cabe à esta ciência? 

 

Para tanto, temos a satisfação de convidar a comunidade científica a submetar contribuições para este dossiê temático de Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade.  Considerando a sugestão da temáticaAdministração Política: ensino, pesquisa e práticao objetivo dessa chamada é abrir espaço para que os pesquisadores críticos da área de administração difundam formas alternativas de conceber a gestão das relações sociais de produção, circulação,distribuição e consumo da sociedade contemporânea, em geral, e a brasileira, em especial. Com esse  propósito apresentamos a seguir os seis eixos temáticos que irão orientar a submissão dos trabalhos.

 

Eixos Temáticos

 

  1. Administração Política do Capitalismo Contemporâneo -  objetiva estimular a abordagem crítica dos modelos teóricos, metodológicos e praxiológicos do capitalismo contemporâneo (Gerencialismo, Regulacionismo, Institucionalismo), evidenciando as implicações para os indivíduos, organizações e sociedade;
  2. Administração Política Keynesiana – estimula a produção de textos que possibilitem uma (re)interpretação do padrão de gestão proposto por Keynes ou críticas à leitura equivocada do pensamento do autor pelos chamados neokeynesianos, ressaltando as implicações desse padrão de administração política nas relações sociais de produção , distribuição e consumo, enfatizando as relações entre Estado, Mercado e Sociedade;
  3. Administração Política Marxista – objetiva estimular a produção e publicação de estudos que possam estabelecer um diálogo profícuo entre a teoria da administração política e as bases teórico-metodológicas que conformam os estudos marxistas, de modo a atualizar o pensamento marxiano para analisar ou orientar as transformações das relações sociais contemporâneas; 
  4. Administração Política do Desenvolvimento – objetiva abrir espaço para a apresentação de estudos voltados para a análise dos modelos de gestão do desenvolvimento de correntes teóricas diversas como o estruturalismo, o pós-estruturalismo, o multiculturalismo e o pós-colonialismo (Desenvolvimentismo Cepalino, Neoliberalismo, Novo-Desenvolvimentismo, Pós-Desenvolvimentismo, etc.), de modo a  evidenciar  as implicações dos modelos no cotidiano dos  indivíduos, das organizações e da sociedade, bem como estudos dirigidos à análise e/ou avaliação dos efeitos da Administração Política Brasileira sobre a distribuição da riqueza e da renda social;
  5. Ensino e Pesquisa em Administração Política – objetiva estimular a produção e publicação de estudos acadêmicos em Teoria e Metodologia em Administração Política; assim como estimula-se a produção de artigos que analisem experiências de ensino e formação profissional, com base na teoria da Administração Política, de modo a destacar a importância da formação crítica que ressalte o papel social e político do administrador no exercício na sua função profissional e social;
  6. Metodologias de Avaliação de Políticas Públicas à Luz da Administração Política - objetiva a produção e difusão de metodologias e instrumentos de avaliação em políticas públicas com base na teoria da administração política. Esse espaço dedica-se, pois, à publicação de estudos conjunturais em administração com ênfase na utilização das bases teóricas e metodológicas da administração política, buscando estimular, pois, o desenho de pesquisas avaliativas qualitativas que integrem as dimensões da gestão e da gerência como fenômenos administrativos integrados e indissociáveis de um mesmo processo social e técnico. 

 

Com base nesses temas, serão considerados estudos integrados à Teoria da Administração Política os textos que enfatizem análises e discussões críticas e reflexivas sobre os fenômenos administrativos; trabalhos que rompam o foco predominante estimulado pelo mainstream, baseado nos princípios funcionalistas clássicos da administração, com ênfase nos aspectos instrumentais ou superficiais do pensar e fazer administrativo. A pretensão dos editores especiais do dossiê temático  é, portanto, possibilitar aos pesquisadores das ciências sociais aplicadas, de maneira geral com especial ênfase para o campo da  administração e da gestão (em suas diversas manifestações), assim também para os estudiosos das ciências sociais, das ciências humanas e de outras áreas do conhecimento que assumam a análise crítica sobre a realidade sócio histórica dos diversos modos de organização e administração das relações sociais como interesse.

 

Modalidades de contribuição

 

Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade publica contribuições na forma de Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas (de livros, filmes, exposições, performances artísticas), Registros fotográficos e Vídeos. Os idiomas aceitos são português, inglês e espanhol, desde que estejam de acordo com a política editorial e as diretrizes para os autores. Para ter acesso às orientações gerais, acesse:http://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/about/submissions#onlineSubmissions.

 

Submissão

 

Qualquer que seja a modalidade de contribuição (Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas, Registros fotográficos ou Vídeos), xs autorxs devem informar o editor, no item “Comentários para o editor”, que estão submetendo especificamente para o dossiê temático “Administração Política: Ensino, Pesquisa e Prática”.

 

Prazo

 

As contribuições para o dossiê temático “Administração Política: Ensino, Pesquisa e Práticase encerram impreterivelmente no dia 14 de fevereiro de 2017.

 

Informações adicionais

 

No caso de quaisquer dúvidas sobre este número especial, os editores especiais devem ser contactados: Reginaldo Souza Santos (rsouza@ufba.br), Elizabeth Matos Ribeiro (ematos@ufba.br), Elinaldo Leal Santos (elinaldouesb@gmail.com) ou Fábio Guedes Gomes (fbgg30@yahoo.com.br). No caso de dúvidas sobre o periódico em si, o contato deve ser feito com a secretaria de farol (farol@face.ufmg.br).

 

Prof. Luiz Alex Silva Saraiva, Dr.
Editor-chefe
Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade