A APARÊNCIA E A ESSÊNCIA DA UBERIZAÇÃO DO TRABALHO
DOI:
https://doi.org/10.25113/farol.v10i27.6919Palavras-chave:
Uberização, Trabalho, Ilusão, Aparência, EssênciaResumo
A uberização tornou-se um dos fenômenos mais debatidos nos estudos dedicados a entender a constituição do trabalho contemporâneo. Podendo ser compreendida como forma de controle, gerenciamento e organização do trabalho, distancia-se da regularidade do assalariamento formal, acompanhado geralmente pela garantia dos direitos sociais e trabalhistas, podendo resultar em uma precarização dos direitos laborais, desrespeito e descumprimento contumaz de direitos elementares. Na uberização do trabalho há um nublamento de fronteiras e situações de aparências. Este artigo tem como escopo sistematizar as ilusões da uberização do trabalho ao investigar esse processo, à luz das trajetórias pessoais e profissionais de homens e mulheres que exercem a atividade de motoristas Uber, esquadrinhando a essência do fenômeno. Para sustentar esses argumentos, coletamos dados de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida a partir da observação direta, da análise de documentos e da realização de entrevistas semiestruturadas com motoristas da Uber da região metropolitana de Campinas-SP e São Paulo-SP.
Referências
Abílio, Ludmila C. (2017a). Uberização do trabalho: subsunção real da viração. Passa palavra. 19/02/2017. Recuperado em 20 abril, 2017 de: http://passapalavra. info/2017/02/110685.
Abílio, Ludmila C. (2017b). A eliminação dos custos associados ao direito e à proteção do trabalhador constitui a espinha dorsal da reforma trabalhista. [Entrevista cedida a] Patricia Fachin. Revista IHU on-line. 13/12/2017. Recuperado em 20 março, 2019 de: http://www. ihu. unisinos. br/159-noticias/entrevistas/574556-a-eliminacao-dos-custos-associados-ao-direito-e-a-protecao-do-trabalhador-constitui-a-espinha-dorsal-da-reforma-trabalhista-entrevista-especial-com-ludmila-abilio
Abilio, Ludmila C. (2011). O make up do trabalho: uma empresa e um milhão de revendedoras de cosméticos. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Alves, Maria A. & Tavares, Maria A. (2006). A dupla face da informalidade do trabalho: autonomia e precarização. In Ricardo Antunes (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo.
Amorim, Henrique & Moda, Felipe B. (2020). Trabalho por aplicativo: gerenciamento algorítmico e condições de trabalho dos motoristas da Uber. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, 22(1), 59-71.
Amorim, Henrique, Moda, Felipe, & Mevis, Camila (2021). Empreendedorismo: uma forma de americanismo contemporâneo? Caderno CRH, 34, e021018.
Antunes, Ricardo (2020). Trabalho uberizado e capitalismo virótico: entrevista com Ricardo Antunes. Digilabour, 2020. Recuperado em 20 outubro, 2020 de: https://digilabour.com.br/2020/06/14/trabalho-uberizado-e-capitalismo-virotico-entrevista--com-ricardo-antunes.
Antunes, Ricardo (2019). Uberização nos leva para a servidão, diz pesquisador. União Geral dos Trabalhadores, 25 de julho de 2019. Recuperado em 27 julho, 2019 de: http://www. ugt. org. br/index. php/post/22533-Uberizacao-nos-leva-para-a-servidao-diz-pesquisador.
Antunes, Ricardo (2018). O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo.
Antunes, Ricardo & Braga, Ruy (Orgs.). (2019). Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo.
Belluzzo, Luiz G. (2013). O capital e suas metamorfoses. São Paulo: Unesp.
Bianchi, Daniel & Machado, Maíra S. (2017). A situação dos motoristas de Uber: superexploração do trabalho por trás do discurso empreendedor. Anais do Congresso Brasileiro de Sociologia, Brasília, DF, Brasil, 18º.
Bihr, A. A fraude do conceito de “capital humano”. Le Monde Diplomatique, 1 dez. 2007. Recuperado em 6 março, 2020 de: https://diplomatique.org.br/a-fraude-do-conceito--de-capital-humano/.
Bourdieu, Pierre (1998). A precariedade está hoje por toda parte. In Pierre Bourdieu. Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal (pp. 72-77). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Brasil. Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (12. Vara do Trabalho de Belo Horizonte) (2017a). Reclamação Trabalhista Rito Sumaríssimo n. 0011863-62. 2016. 5. 03. 0137. Autor: Carlos Eduardo Estefane da Hora. Réu: Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Juiz Substituto do Trabalho: Pedro Mallet Kneipp. Julgado em 18 de julho de 2017.
Brasil. Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (37. Vara do Trabalho de Belo Horizonte) (2017b). Reclamação Trabalhista Rito Sumaríssimo n. 0011863-62. 2016. 5. 03. 0137. Autor: Artur Soares Neto. Réu: Uber do Brasil Tecnologia LTDA. Juiz Substituto do Trabalho: Filipe de Souza Sickert. Julgado em 30 de janeiro de 2017.
Bucher, Taina (2017). The Algorithmic Imaginary: exploring the ordinary affects of Fa¬cebook algorithms. Information, Communication & Society, 20(1), 30-44.
Cardoso, Ana C. (2020). Uberismo e gamificação: transformações do mundo do trabalho reveladas na greve dos entregadores. Entrevista especial com Ana Claudia Moreira Cardoso-IHU, 2020. Recuperado em 18 junho, 2020 de: https://www.ihuunisinos.br/159-noticias/entrevistas/601125-uberismo-e-gamificacao-transformacoes-do-mundo-do-trabalho-reveladas-na-greve-dos-entregadores--entrevista-especial-com-ana-claudia-moreira-cardoso.
Castro, Bárbara (2013). Afogados em contratos: o impacto da flexibilização do trabalho nas trajetórias dos profissionais de TI. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Castro, Viviane V. (2020). As ilusões da uberização: um estudo à luz da experiência de motoristas Uber. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Castel, Robert (1998). As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio de Janeiro: Vozes.
Chaves Júnior, José E. R. (2017). Desafio do Direito do Trabalho é limitar o poder do empregador-nuvem. Conjur, 16 fev. 2017. Recuperado em 18 junho, 2019 de: https://www. conjur. com. br/2017-fev16/desafio-direito-trabalho-limitar-poder-empregador-nuvem.
Cohn, Amélia (2013). Entre sair da pobreza e ingressar na cidadania: Nova classe média: utopia de um futuro fugaz? In Dawid D. Barltelt (Org.). A “nova classe média” no Brasil como conceito e projeto político (pp. 106-114). Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll.
Colbari, A. L. (2015). Do autoemprego ao microempreendedorismo individual: desafios conceituais e empíricos. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, 4(1), 165-189.
Colbari, Antonia L. (2007). A retórica do empreendedorismo e a formação para o trabalho na sociedade brasileira. Sinais – Revista Eletrônica – Ciências Sociais, 1(1), 75-111.
Dardot, Pierre & Laval, Christian (2016). A nova razão do mundo. São Paulo: Boitempo.
Galvão, Andréia (2007). Neoliberalismo e reforma trabalhista no Brasil. Rio de Janeiro: Revan/Fapesp.
Gillespie, Tarleton (2018). A relevância dos algoritmos. Parágrafo, 6(1), 95-121.
Grohmann, Rafael (2020). Plataformização do trabalho: características e alternativas. In Ricardo Antunes (Org. ). Uberização, trabalho digital e Indústria 4. 0 (pp. 93-109). São Paulo: Boitempo.
Guimarães, Paulo J. S. (2007). Dos contratos de hospedagem, de transporte de passageiros e de turismo. São Paulo: Saraiva.
Han, Byung-Chul (2015). Psicopolítica. Barcelona: Herder.
Han, Byung-Chul (2014). Por que hoje a revolução não é possível? El Pais, 3 out. 2014. Recuperado em 20 junho, 2019 de: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/22/opinion/1411396771_691913.html.
Huws, Ursula (2018). A formação do cibertariado: trabalho virtual em um mundo real. Campinas: Unicamp.
Kleinberg, Jon (2008). The mathematics of algorithm design. Princeton Companion to Mathematics, Princeton University Press, 2008. Recuperado em 8 novembro, 2017 de: https://www. cs. cornell. edu/home/kleinber/pcm. pdf.
Krein, J. D. As tendências recentes na relação de emprego no Brasil: 1990-2005. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Leme, Ana C. R. P. (2020). Neuromarketing e sedução dos trabalhadores: o caso Uber. In Rodrigo L. Carelli, Tiago M. Cavalcanti, & Vanessa P. Fonseca (Orgs.). Futuro do trabalho: os efeitos da revolução digital na sociedade (pp. 139-155). Brasília: ESMPU.
Leme, Ana C. R. P. (2018). Da máquina à nuvem: caminhos para o acesso à justiça pela via de direitos dos motoristas da Uber. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Lima, Jacob C. (2010). Participação, empreendedorismo e autogestão: uma nova cultura do trabalho? Sociologias, 12(25), 158-198.
Marx, Karl (2013). O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo.
Mazzotti, Massimo (2017). Algorithmic life. In: Michele Pridmore-Brown & Julien Crockett (Eds.). The digital revolution: debating the promises and perils of the Internet, automation, and algorithmic lives in the last years of the Obama Administration (pp. 34-35). Los Angeles: Los Angeles Review of Books.
Ministério Público do Trabalho. Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (2017). Relatório Conclusivo do Grupo de Estudos Uber. Brasília: CONAFRETE.
Morozov, Evgeny (2018). Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu.
Ohno, Taiichi (1997). O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman.
Oitaven, Juliana C. C., Carelli, Rodrigo L., & Casagrande, Cássio L. (2018). Empresas de transporte, plataformas digitais e a relação de emprego: um estudo do trabalho subordinado sob aplicativos. Brasília: Ministério Público do Trabalho.
O'neil, Cathy (2016). Weapons of math destruction: how big data increases inequality and threatens democracy. Largo: Crown Books.
Pochmann, Márcio (2016). Recessão, direitos sociais e trabalhistas. Democracia e Mundo do Trabalho em Debate, 2016. Recuperado em 20 outubro, 2020 de: http://www.dmtemdebate.com.br/recessao-direitos-sociais-e-trabalhistas.
Pochmann, Márcio (2008). O emprego no desenvolvimento da nação. São Paulo: Boitempo.
Romita, Arion S. (1979). A subordinação no contrato de trabalho. Rio de Janeiro: Forense.
Santino, Renato (2016). Veja as 10 regras que podem fazer um motorista ser banido da Uber. Olhar digital, 4 de agosto de 2016. Recuperado em 15 setembro, 2016 de: https://olhardigital. uol. com. br/noticia/veja-as-10-regras-que-podem-fazer-um-motorista-ser-banido-da-uber/60923.
Santos, L. G. & Ferreira, P. P. (2008). A regra do jogo: desejo, servidão e controle. In Fábio Vilares (Org.). Novas mídias digitais (audiovisual, games e música): impactos politicos, econômicos e sociais (pp. Xxx-xxx). Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
Sennett, Richard (2003). A corrosão do caráter: consequências pessoas do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record.
Severo, Valdete S. & Souto Maior, Jorge L. (2017). Manual da reforma trabalhista: pontos e contrapontos. Poro Alegre: Sensus.
Souza, Jessé (2017). A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya.
Standing, Guy (2013). O precariado: a nova classe perigosa. Belo Horizonte: Autêntica.
Teodoro, Maria C. M., Silva, Thais C. D., & Antonieta, Maria (2017). Disrupção, economia compartilhada e o fenômeno Uber. Revista da Faculdade Mineira de Direito, 20(39), 1-30.
Uber (2018a). Afinal, qual é a nota mínima exigida pela Uber? Recuperado em 20 maio, 2018 de: https://uberbra. com/afinal-qual-e-a-nota-minima-exigida-pelauber/.
Uber (2016). Fatos e dados sobre a Uber. Recuperado em 20 maio, 2018 de: https://www. uber. com/pt-BR/newsroom/fatose-dados-sobre-uber/.
Van Dijck, José, Poell, Thomas, & De Waal, Martijn (2018). The platform society. New York: Oxford University Press.
Vasapollo, Luciano (2005). O trabalho atípico e a precariedade. São Paulo: Expressão Popular.
Viana, Márcio T. (2011). Trabalhadores parassubordinados: deslizando para fora do Direito. In Luiz O. L. Renault, Paula O. Cantelli, Lorena V. Porto, & Fernan Faria (Orgs.). Parassubordinação: em homenagem ao Professor Márcio Túlio Vianna (pp. 24-29). São Paulo: LTr.
Viana, Marcio T. (2004). Terceirização e sindicato: um enfoque para além do direito. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 45, 203-242.
Vidigal, Viviane (2021). Periciando a caixa de pandora: os segredos da gestão algorítmica do trabalho. Teoria Jurídica Contemporânea, 1(1), e44817.
Vidigal, Viviane (2020). Delivery viral: entre a virtualidade do pedido e a concretude da entrega. In Bárbara Castro (Org.). Covid-19 e sociedade: ensaios sobre a experiência social da pandemia (pp. 278-294). Campinas: Unicamp/IFCH.
Wurman, R. Saul (1997). Information architects (2nd ed). Lakewood: Watson-Guptill.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Viviane Vidigal
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Assume-se que em qualquer das modalidades de contribuições aceitas pela Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, ao submeter um trabalho, o(s) autor(es) se reconhece(m) como detentor(es) do direito autoral sobre ele e autoriza(m) seu livre uso pelos leitores, podendo ser, além de lido, baixado, copiado, distribuído, adaptado e impresso, desde que seja atribuído o devido crédito pela criação original. Em caso de aprovação do trabalho para publicação, os direitos autorais (inclusive os direitos de tradução) são exclusivamente do(s) autor(es).
Os autores devem concordar com os seguintes termos relativos aos Direitos Autorais:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
