O PODER DE NÃO DAR: AS RELAÇÕES DO DOM E BORDÉIS
DOI:
https://doi.org/10.25113/farol.v8i23.5750Palavras-chave:
Prostituição, Rio de Janeiro, Relações do dom, Reciprocidade, Trabalho engendradoResumo
O presente artigo é baseado em mais de uma década de trabalho de campo etnográfico no Rio de Janeiro, um nexo na paisagem sexual global onde a prostituição não é criminalizada e onde os bordéis, embora ilegais, tendem a ser tolerados, protegidos e até gerenciados pela polícia e por outras autoridades. Dadas as sanções morais empregadas contra mulheres que praticam a venda de sexo, acreditamos que a instituição do bordel pode ser, em algumas situações, mais importante para as mulheres delimitarem as fronteiras da reciprocidade íntima do que para os homens, fato que é frequentemente ignorado por teóricas feministas que falam sobre prostituição mas que raramente a observam no campo. Neste sentido e contexto, bordéis e as estruturas de apoio associadas com eles podem ser entendidos como “disjuntores” estratégicos para as mulheres que procuram evitar a lógica engendrada de reciprocidade e sexo.
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