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DOI:
https://doi.org/10.25113/farol.v9i26.8083Palavras-chave:
Fotografia, Belo horizonteResumo
Um registro despretensioso de um dia morno de outono, do alto de um edifício em uma grande cidade que faz jus ao nome que recebeu. Sim, um belo horizonte. Um horizonte, lá perdido sobre o concreto, o barulho e o suor exausto daquelas pessoas que não o perceberam. Embora não fosse fotógrafo, Barthes faz despertar o encanto pela fotografia. Disse: "[…] A imobilidade da foto é como o resultado de uma confusão perversa entre dois conceitos: o Real e o Vivo: ao atestar que o objeto foi real, ela induz dub-repticiamente a acreditar que ele está vivo, por causa de logro que nos faz retribuir ao Real um valor absolutamente superior, como que eterno; mas ao deportar esse real para o passado (“isso foi”), ela sugere que ele já está morto" (Barthes, 1980, p. 118). Está morto. Aqueles que não perceberam jamais verão aquele horizonte novamente. E aqueles que o puderam perceber, não o viram sob a mesma perspectiva, porque nada pode romper a barreira da subjetividade do olhar. Verão inúmeros outros, que virão ou que já foram, mas não este, a não ser pela retina de um outro indivíduo e pela lente que, só por ele, foi capaz de capturar aquela imagem de um milésimo de segundo que não volta mais. Talvez, isso valha pra toda uma vida, pra todo instante. Sem qualquer pretensão, fica aqui um convite à reflexão e ao exercício do olhar, ainda que seja ele difícil. Esse céu que não foi visto poderia, quem sabe, trazer o fôlego para aquele cansaço e, vai saber, fazer nascer, por ousadia, uma florzinha amarela que grita por vida no meio do asfalto. Há de brotar poesia no meio do caos. Porque a beleza há de resistir também. Fica aí o registro de um olhar único sobre o céu, numa tarde outonal, que também não volta mais, mas que, paradoxalmente, fica eterno nesta fotografia que estampa, alegremente, esta edição. Alberto Caieiro (2013, p. 92) um dia escreveu: Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse ,Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. Abram a janela e sejam bem-vindos.
Referências
Barthes, Roland (1980). A câmara clara: notas sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Caieiro, Alberto [Fernando Pessoa] (2013). [XVIII] In Alberto Caieiro. Poemas completos de Alberto Caieiro (2a ed). São Paulo: Ática.
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Copyright (c) 2022 Flávia Freitas Castro de Melo Carvalho
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