Chamada de Trabalhos - Dossiê temático "CINEMA: TRABALHO, ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE"
CHAMADA DE TRABALHOS
DOSSIÊ TEMÁTICO
CINEMA: TRABALHO, ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE
EDITORXS ESPECIAIS
Andrea Poleto Oltramari, UFRGS
Deise Luiza da Silva Ferraz, UFMG
Eduardo Wannmacher, PUC RS
Fernanda Tarabal, UFRGS
A presente chamada versa sobre a discussão do cinema e suas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento. Nosso objetivo é refletir sobre o uso de filmes enquanto metodologia e ferramenta de ensino e pesquisa, fomentando assim estudos que articulem o cinema e Administração.
O cinema, enquanto meio de difusão de cultura e reflexão, constitui-se num dos meios de maior e fácil acesso, pela sua abrangência e por vezes baixo custo de projeção. O cinema também se constitui como um importante meio de entretenimento e aprendizagem para as pessoas, sendo considerado um importante meio de comunicação de massa.
Embora ainda embrionárias, existem discussões cinematográficas no campo da Administração que associam as representações à realidade do mundo do trabalho nas mais diversas categorias: gênero e prostituição (SOUSA, 2005); o mundo do trabalho (ESTANISLAU et al., 2012); sofrimento no trabalho e assédio moral (PANIZA; MELLO NETO, 2015; MACHADO; IPIRANGA; MATOS, 2013); as pressões vividas pelos trabalhadores e a dificuldade em equilibrar trabalho e lazer (BIZARRIA et al., 2014); empreendedorismo (PAIVA JR.; ALMEIDA; GUERRA, 2008) e análise dos discursos nas organizações (FREITAS; LEITE, 2015); relações de trabalho e classe social (OLTRAMARI; SILVA; BORTOLINI, 2016), entre outras.
Mesmo que outras áreas já produzam em relativa intensidade discussões sobre análises fílmicas, cabe ressaltar que na área de Administração, objeto da presente proposta, essas discussões e pesquisas ainda se encontram embrionárias. Tal fato abre possibilidades para pensar em um diálogo entre o cinema e as temáticas relacionadas a trabalho, organizações e sociedade.
Acredita-se que o cinema tem um grande potencial de reflexão e, portanto, de transformação. O uso de cinema na educação já vem sendo utilizado por outros pesquisadores tais como Mendonça e Guimarães (2008), configurando enquanto ferramenta multidisciplinar que aborda o uso de filmes como recurso didático em aulas de administração. É na sala de aula dizem os autores, que o espectador é convidado a refletir e rever seus próprios valores pessoais e experiência de vida.
Cinema também é narrativa e como função dela tem-se resolver simbolicamente o que não se pode resolver na realidade (TURNER, 1997). As narrativas podem ser tanto textuais quanto sociais. Do contexto social, por exemplo, podem-se inferir ligações entre um filme e movimentos sociais. Assim, dependendo da época que o filme representa, a conclusão da narrativa pode representar a solução absolutamente simplificada para problemas pessoais ou sociais. Assim, ao projetar um filme e proceder sua análise crítica após a projeção, pode redundar em transformações nos sujeitos implicados no processo, tais como alunos, comunidade, trabalhadores etc.
O cinema enquanto veículo cultural, inegavelmente atinge às massas e por isso pode inclusive projetar e ser repleto de convenções sociais, justamente como tentativa de agradar as massas. No entanto, há também o cinema que tem a intenção de realizar a crítica, como forma de reflexão sobre possibilidades outras de representação da realidade.
O cinema, ao possibilitar a representação de problemas e dilemas humanos em um contexto cultural, social e temporal particular e delimitado, oferece aos espectadores a suspensão temporária de sua vivência cotidiana, para que possam vivenciar, por meio da tela, outras histórias e realidades. Assim, os filmes podem ser considerados tanto como ficções de entretenimento como reflexos da realidade, ou até mesmo como artefatos culturais que moldam e constituem nosso entendimento do social e da vida organizacional (Huczynski; Buchanan, 2004). Sendo, portanto, um produto cultural de entretenimento, o cinema captura a atenção do público ao, diversas vezes, reproduzir na tela a realidade travestida de ficção, estabelecendo uma identificação com o público e atuando como construtor e reprodutor de identidades sociais e culturais. Motivadas pela possibilidade de analisarmos a sociedade brasileira contemporânea, a partir do ponto de vista construído pelo cinema e pela encenação que o mesmo realiza a cerca da sociedade, optamos por esse recurso analítico para discutirmos sobre as relações de trabalho e de classe brasileiras.
Desde a década de 1970, a utilização de filmes e de outros recursos artísticos como ferramentas didáticas e de análise tem sido tema de diversos estudos (Champoux, 1999; Huczynski; Buchanan; 2004; 2006; Suarez; Tomei, 2007; Mendonça; Guimarães, 2008; Souto, 2012; Souza, 2013; Simim, 2015). A escolha pela análise fílmica se justifica por ser um produto cultural inscrito em um contexto sócio histórico, com o diferencial de ser um produto dinâmico. Assim, ele é movimento, um fluxo de imagens, sons, sensações e experiências que precisam ser vividas como um todo, não se restringindo a uma fotografia estanque. É por isso que o filme pode ser utilizado com o intuito de se analisar uma sociedade (VANOYE, 2004).
A análise fílmica se dá por meio de um processo de compreensão, de (re)constituição e interpretação do filme. Para Vanoye (2004), ela se constrói a partir de dois momentos, que se alternam de maneira anárquica e caótica: a decomposição do filme em seus elementos constitutivos, através do ato de “despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar, destacar e denominar materiais que não se percebem isoladamente a olho nu, uma vez que o filme é tomado pela totalidade” (VANOYE, p.15, 2004). O segundo momento exige que se reestabeleça os elos entre os elementos, chegando-se, assim, na reconstrução do filme. Entretanto, essa reconstrução não representa mais o filme por si só, se tornando uma criação daquele que fez a análise, no momento em que o analista traz algo de si para o filme, fazendo com que, a partir do seu olhar, o filme exista. A análise de dá assim por meio de dois movimentos, a desconstrução, que é também o momento da descrição, e a reconstrução, que é nada mais do que a interpretação por parte do analista.
Assim, o que intentamos é propiciar aos estudiosos e interessados pelo debate Cinema e Administração, e em especial nas temáticas trabalho, organizações e sociedade, um espaço profícuo para o desenvolvimento de ideias e reflexões, e ainda, o amadurecimento de um campo de trabalho, pesquisa e estudos inovador, rico, e ainda em construção.
Referências
BIZARRIA, F. P. A.; TASSIGNY, M. M.; ALMEIDA, R. R. F.; BRASIL, M. V. O. Análise da atividade de consultoria com suporte na observação fílmica: o caso do filme Missão Demissão. Teoria e Prática em Administração, v. 4, n. 2, p. 49-69, 2014.
CHAMPOUX, J. E. Film as a teaching resource. Journal of Management Inquiry, v. 8, n.2, p. 206-219, June, 1999.
ESTANISLAU, C.; CASTRO, D.; VIEIRA, A. M.; RESCH, S. O mundo do trabalho visto no cinema: busca por significados no documentário peões. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, v. 6, n. 2, p. 33-49, 2012.
FREITAS, A. D. G.; LEITE, N. R. P. Linguagem fílmica: uma metáfora de comunicação para a análise dos discursos nas organizações. Revista de Administração, v. 50, n. 1, p. 89-104, Mar. 2015.
HUCZYNSKI, A.; BUCHANAN, D. Theory from fiction: A narrative process perspective on the pedagogical use of feature film. Journal of Management Education, v. 28, n. 6, p. 707-726, 2004.
MACHADO, D. Q.; IPIRANGA, A. S. R.; MATOS, F. R. N. (2013); "Quero matar meu chefe: retaliação e ações de assédio moral". Pretexto, v. 14, n. 1, 52-70, jan./mar. 2013.
MENDONÇA, J. R.; GUIMARÃES, F. P. Do quadro aos "quadros": o uso de filmes como recurso didático no ensino de administração. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 6, ed. esp., ago. 2008.
OLTRAMARI, A.; SILVA, C. S.; BORTOLINI, A. C. Relações de trabalho e de classe em “Que horas ela Volta?”. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, IX, 2016, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ANPAD, 2016.
PAIVA JR, F. G.; ALMEIDA, S. L.; GUERRA, J. R. F. O empreendedor humanizado como uma alternativa ao empresário bem-sucedido: um novo conceito em empreendedorismo, inspirado no filme Beleza Americana. Revista de Administração Mackenzie, v. 9, n. 8, nov./dez. 2008.
PANIZA, M. D. R.; MELLO NETO, G. A. R. O Diabo Veste Prada - e é minha chefe: resenha fílmica sobre sofrimento no trabalho. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, v. 2, n. 5, p. 1137-1162, dez. 2015.
SOUSA, F. I. Imagens e representações da prostituta no cinema. Revista Ciências Administrativas, v. 11, n. Especial, p. 85-90, 2005.
TURNER, G. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997.
VANOYE, F.; GOLLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a Análise Fílmica. Campinas, Papirus, 2004.
Modalidades de contribuição
Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade publica contribuições na forma de Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas (de livros, filmes, exposições, performances artísticas), Registros fotográficos e Vídeos. Os idiomas aceitos nas contribuições são português, inglês e espanhol, desde que estejam de acordo com a política editorial e as diretrizes para os autores. Para ter acesso às orientações gerais, acesse:http://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/about/submissions#onlineSubmissions.
Submissão
Qualquer que seja a modalidade de contribuição (Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas, Registros fotográficos ou Vídeos), xs autorxs devem informar o editor, no item “Comentários para o editor”, que estão submetendo especificamente para o dossiê temático “CINEMA: TRABALHO, ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE”.
Prazo
As contribuições para o dossiê temático “CINEMA: TRABALHO, ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE” se encerram impreterivelmente no dia 7 de agosto de 2017.
Informações adicionais
No caso de quaisquer dúvidas sobre este número especial, xs editorxs especiais devem ser contactadxs: Profa. Dra. Andrea Poleto Oltramari (andrea.oltramari@ufrgs.br ), Profa. Dra. Deise Luiza da Silva Ferraz (deiseluiza@face.ufmg.br), Prof. Dr. Eduardo Wannmacher (eduardo.wannmacher@pucrs.br), ou Profa. Dra. Fernanda Tarabal (fernanda.tarabal@ufrgs.br). No caso de dúvidas sobre o periódico em si, o contato deve ser feito com a secretaria de farol (farol@face.ufmg.br).
Prof. Luiz Alex Silva Saraiva, Dr.
Editor-chefe
Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade