CHAMADA DE TRABALHOS
Diálogos sobre o Trabalho Humano: Perspectivas Clínicas de Intervenção e Pesquisa
Número especial a ser publicado em Dezembro/2015
Editores Especiais
Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães, CEFET-MG
Fernanda Tarabal Lopes, UFRGS
Admardo Bonifácio Gomes Júnior, UEMG
O posicionamento Clínico pode ser tomado como uma démarche (maneira de caminhar) que busca compreender o que faz a singularidade radical de uma situação, problema, ou mal-estar, de grupos ou pessoa. Uma Clínica do Trabalho dirige sua atenção para dimensões, às vezes pouco visíveis, do trabalho humano. São muitas e diferenciadas as possibilidades de pesquisa e intervenção sob as orientações das abordagens que se reconhecem como “Clínicas do Trabalho”. Nossa intenção neste dossiê é de expor e colocar em debate quatro destas abordagens: a Clínica da Atividade (Yves Clot), a Psicodinâmica do Trabalho (Christophe Dejours), a Ergologia (Yves Schwartz) e a Psicanálise em Extensão. Queremos perseguir questões de como se encaminham, em cada abordagem, as pesquisas e investigações: Com que métodos? Munidos de quais conceitos e construtos teóricos? Na expectativa de que tipo de resultados?
As possibilidades de compreensão do trabalho por meio das abordagens clínicas têm sido cada vez mais procuradas por estudiosos no campo dos Estudos Organizacionais, e mostra-se um caminho profícuo e aprofundado para se tratar as mais diversas possibilidades de relações estabelecidas do homem, com e no, trabalho. Assim, intentamos, com essa proposta, propiciar aos estudiosos de Estudos Organizacionais, que já se orientam nessas vertentes, um espaço para o debate e a reflexão, e para os leitores em geral, a possibilidade de conhecer e se aventurar nessa área de investigação.
Em seguida, apresentamos as perspectivas teóricas contempladas:
A Démarche Ergológica
Buscaremos apresentar com essa perspectiva e colocar em debate alguns constructos da ergologia. Queremos trazer as contribuições desta abordagem clínica do trabalho humano focando na noção de gestão, que nesta perspectiva é tomada como um problema propriamente humano. Como nos afirma Schwartz “Toda gestão supõe escolhas, arbitragens, uma hierarquização de atos e de objetivos, portanto, de valores em nome dos quais essas decisões se elaboram”. O trabalho e sua gestão sempre põe em cena as dramáticas dos “usos de si”, ou seja, os usos de si por si e pelos outros. Usos que cada trabalhador faz de si para atender às exigências que lhe são próprias, oriundas de suas normas e valores pessoais, assim como as exigências que emanam do meio de normas e valores em que se encontra. Trabalhar é fazer uso de si, que é sempre um debate entre as normas e valores do meio e do indivíduo. Trabalhar nunca se restringe ao cumprimento das normas, pois há sempre renormalizações, mesmo que infinitesimais, que o sujeito realiza sobre as normas do meio como uma exigência vital. Toda gestão é assim um confronto de gestões sempre singulares.
A Clínica da Atividade
Nosso intuito é apresentar e trazer à discussão as contribuições da “Clínica da Atividade” desenvolvida por Yves Clot. Nela partimos de uma noção de trabalho como atividade para lançar luz não só sobre aquilo que se faz, mas também sobre o que não se faz e sobre o que se desejaria fazer ou ter feito. Interessa a esta clínica não só o que é realizado, pois o “real do trabalho” inclui mais do que apenas esta dimensão. A atividade realizada se difere do real do trabalho já que este inclui as atividades contrariadas, impossíveis, etc. O que a clínica da atividade visa é: dar destinos às atividades não realizadas. Nela a questão da observação é tomada no cerne de sua dicotomia com a questão da escuta, foco constante de controvérsia científica. Ou seja, o que privilegiar? O que se vê do trabalho ou o que se ouve das verbalizações do que se vê? Para a “Clínica da atividade” a pessoa observada está conversando consigo mesma, na medida em que, sabendo-se observada ela se pergunta o que mostrar e o que não mostrar e o que dizer e o que não dizer daquilo que mostra ou não. É neste campo de tensão entre o que pode e/ou não ser exposto, visto e verbalizado é que se debruçam os pesquisadores. Neste jogo o objetivo é o de submeter o entrevistado/observado a uma intensa verbalização sobre seu trabalho como forma de transformá-lo ao compreendê-lo.
A Psicodinâmica do Trabalho
Nosso objetivo é trazer ao debate a contribuição clínica da “Psicodinâmica do Trabalho” desenvolvida por Christophe Dejours. Nela as investigações se dirigem ao campo das relações entre subjetividade e trabalho. Baseada em algumas noções psicanalíticas suas questões são endereçadas não só ao sofrimento psíquico apresentado com o trabalho, mas sobretudo à enigmática saúde no trabalho. Sabemos que no trabalho, o indivíduo põe em cena um sofrimento que lhe é próprio, lançando mão de estratégias individuais e coletivas para atribuir sentido a atividade que realiza. O sofrimento no trabalho é, nesse contexto, uma variável (ou, um elemento) frente à qual os indivíduos apresentam saídas criativas ou patogênicas, para a produção e/ou para a própria saúde. Seu método de investigação inclui uma análise de todo o “Contexto de trabalho” entendido como a soma das condições de trabalho, das relações socioprofissionais e da organização do trabalho. As observações dos trabalhadores em atividade, as entrevistas em profundidade, assim com as conversas com os coletivos de trabalhadores são importantes métodos de pesquisa e intervenção marcando com veemência a importância tanto da observação quanto da escuta.
A Psicanálise em Extensão no Trabalho
Partindo do problema da relação entre trabalho e saúde mental são várias as possibilidades de contribuição da Psicanálise no campo do trabalho humano, por exemplo, na investigação diagnóstica dos sintomas, na intervenção clínica, assim como na orientação sobre os modos de gerir o trabalho. Pensar nos sintomas com o trabalho tem a potência de dar visibilidade ao modo singular de funcionamento de cada sujeito nas dimensões de sentido e referência que o sintoma comporta frente às proposições do meio de trabalho. Se o sintoma é o que enlaça os registros real, simbólico e imaginário, nossa argumentação é que a queixa sintomática que o sujeito apresenta em sua relação com o trabalho traz o fio de onde podemos partir para tecer a trama das dimensões simbólica e imaginária que comportam o sentido atribuído ao sintoma. Não deixamos de nos ater, também, à dimensão real de gozo que o sintoma comporta e que é sua referência. Em uma leitura do sintoma como uso de si, ao mesmo tempo psicanalítica e ergológica, buscamos reconhecer tanto a determinação social dos sintomas (o uso de si pelos outros) quanto uma estratégia de ação sobre essa mesma determinação (no uso de si por si, sempre presente). Trata-se de uma aposta no sujeito, na singularidade de seu uso do sintoma como forma de fazê-lo emergir ativamente sobre a força das determinações sociais que o sobrepujariam.
Modalidades de contribuição
Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade publica contribuições na forma de Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas (de livros, filmes, exposições, performances artísticas), Registros fotográficos e Vídeos. Os idiomas aceitos são português, inglês e espanhol, desde que estejam de acordo com a política editorial e as diretrizes para os autores. Para ter acesso às orientações gerais, acesse: http://revistas.face.ufmg.br/index.php/farol/about/submissions#onlineSubmissions.
Submissão
Qualquer que seja a modalidade de contribuição dos autores (Capas, Artigos, Ensaios, Debates, Provocações, Entrevistas, Depoimentos, Resenhas, Registros fotográficos ou Vídeos), devem informar o editor no item “Comentários para o editor” que estão submetendo especificamente para o número especial “Diálogos sobre o Trabalho Humano: perspectivas Clínicas de Intervenção e Pesquisa”.
Prazo
As contribuições para o número especial “Diálogos sobre o Trabalho Humano: perspectivas Clínicas de Intervenção e Pesquisa” se encerram impreterivelmente no dia 15 de novembro de 2015.
Informações adicionais
No caso de quaisquer dúvidas sobre este número especial, os editores especiais devem ser contactados: Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães (vmguimaraes@hotmail.com), Fernanda Tarabal Lopes (fernandatarabal@hotmail.com), ou Admardo Bonifácio Gomes Júnior (admardo.junior@uol.com.br). No caso de dúvidas sobre o periódico em si, o contato deve ser feito com a secretaria de farol (farol@face.ufmg.br).
Prof. Luiz Alex Silva Saraiva, Dr.
Editor-chefe
Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade